venho de uma família de pessoas com o nome estranho. talvez por isso eu me ache um corpo estranho no mundo. ou talvez seja pela cor da minha pele. é, talvez seja pela minha cor preta que eu me ache um corpo estranho no mundo. ou talvez eu não me ache um corpo estranho, mas as pessoas acham e por isso eu acabe achando também. não tem nada de errado com meu corpo, com a minha cor ou comigo. espero um dia entender muitas coisas porque atualmente eu sou alguém que ainda não entendeu nada. eu achava que sabia o que queria e fiz biologia. fiz licenciatura, bacharel e agora estou no mestrado estudando anexina. anexina é uma proteína. proteína faz a gente viver. proteína faz a gente dançar. no fim a biologia e a dança se conectaram e eu consigo entender mais do meu corpo e da minha mente de diferentes pontos de vista. eu sou apaixonado por cinema, dança e música. amo o que a arte faz comigo e os lugares pra onde ela me leva. a minha vida inteira na dança foi na mesma companhia, por 14 anos. sou louco por eles, mas comecei a querer dizer algumas coisas que talvez eu só conseguisse tentando outros caminhos. me interesso pelo que me atravessa e muita coisa tem me atravessado ultimamente. o amor, a psicologia, o chão, a luta antirracista, antifacista, antihomofóbica, antitudoquevaicontraodireitobasicodevivereserquemvoceé. eu, que venho me desconstruindo a cada dia, queria também desconstruir meus movimentos, meu corpo, achar um equilíbrio no desequilíbrio, achar um conforto no desconforto, buscar oposições. queria pensar menos e deixar que as coisas simplesmente aconteçam sem a minha interferência. tenho chorado bastante, mas não que isso seja ruim. venho de uma família de pessoas com o nome estranho. meu nome é mayk, prazer. e eu estou
em trânsito